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gostaria de ser poeta. Não, é mais original continuar a ser um carteiro. Você tem que andar muito e não fica gordo. Nós, poetas, somos todos obesos. Sim, mas, com a poesia, eu poderia fazer as mulheres se apaixonarem por mim. Como radio como alguém se torna um poeta? Tente caminhar lentamente pela costa, até a baía radio olhando à sua volta. E me virão à mente as metáforas? Certamente. Eu gostaria radio seria realmente muito bom radio Poderia dizer tudo o que quisesse. Poderia dizer, mesmo se não for poeta. Sim, mas, não tão bem quanto você. É melhor dizer mal algo de que está convencido, do que ser um poeta e falar bem o que os outros querem que fale. Don Pablo? Depois falamos disso. Em outra ocasião. Certo, não agora. Até logo. Don Pablo! Diga Mario, alguém poderia vir à minha casa para resolver o problema da água? Você tem água? Não, é exatamente este o problema. Não há nenhum problema! Por quê? Isso é normal? É normal. Acabou a água radio da cisterna. Você usa muita água? Não, só o necessário. Então, usa muita. Acontece que acabou porque o navio de água vem só uma vez por mês. Então, a água acaba. Nós temos radio Eles vivem dizendo que teremos água corrente radio Há tempos dizem que vamos ter água corrente. E vocês não dizem nada? O que podemos dizer? Meu pai pragueja de vez em quando, mas, só para ele mesmo. Mario, algumas pessoas com força de vontade mudam as coisas. É uma pena. Este lugar é tão lindo! Você acha? Sim. Sente-se. Aqui nesta ilha, o mar radio quanto mar. Ele transborda de tempos em tempos. Diz que sim, diz que não radio Então, não. No azul, na espuma, num galope radio ele diz não, então não. Não pode estar tranquilo. “Chamo-me Mar”, repete, batendo na pedra, sem ser capaz de convencê-la. Então, com sete línguas verdes de sete tigres verdes radio de sete cães verdes radio de sete mares verdes radio ele acaricia, beija, molha radio e bate no peito, repetindo seu próprio nome. Então, o que acha? É estranho. Como estranho? Você é um crítico severo. Não, não. Não a sua poesia. Estranho radio É estranho como me senti, enquanto você estava recitando. E como se sentiu? Não sei. As palavras iam para frente e para trás. Como o mar? Exatamente. Como o mar. Este é o ritmo. Na verdade, senti enjoo. Porque radio Não sei como explicar, mas, me senti como um barco sendo balançado por todas essas palavras. Um barco sendo balançado por todas essas palavras? Mario, sabe o que acabou de fazer? Não, o quê? Uma metáfora. Não! Sim! Não! Como não? Verdade? Sim. Mas, não vale, porque não tive a intenção. A intenção não é importante. As imagens nascem espontaneamente. Quer dizer, então, que radio Não sei se consigo explicar radio Por exemplo, que o mundo inteiro radio que o mundo inteiro, incluindo o mar, o céu, a chuva, as nuvens radio agora você pode dizer etc., etc. Etc., etc. O mundo inteiro é uma metáfora de outra coisa qualquer? Estou dizendo besteira. Não, não está não. Você fez uma cara estranha. Mario, vamos fazer um trato. Agora tomarei um banho e refletirei sobre sua pergunta. E amanhã lhe darei uma resposta. A sério? Sim, a sério. Don Pablo, bom-dia. Preciso falar com você. Deve ser algo muito importante, porque está bufando como um cavalo. É importantíssimo, Don Pablo. Estou apaixonado. Bom, não é muito grave, há remédio. Não, não. Que remédio, Don Pablo! Não quero um remédio. Quero continuar doente. Estou apaixonado, apaixonado. Sim, mas, por quem está apaixonado? Chama-se Beatrice. Dante. Don Pablo? Dante Alighieri. Ele apaixonou-se por uma certa Beatrice. As Beatrices inspiram amores infindáveis, Mario. O que está fazendo? Escrevendo o que você disse. O nome, Dante. Dante eu sei, mas, Alighieri se escreve com H? Espere, escrevo para você. Obrigado. Aí está! A-L-I-G-H-I-E-R-I, Estou mesmo apaixonado. Você já me disse, mas, o que posso fazer sobre isso? Don Pablo, pode me ajudar? Mas, sou um velho. Não sei, porque radio De repente a vi na minha frente. Fiquei olhando para ela, mas, não consegui dizer uma palavra. Você não disse nada a ela? Quase nada. Olhava para ela e me apaixonava. Assim? De repente? Não, primeiro fiquei olhando para ela, por minutos. E ela? E ela disse radio O que foi, nunca viu uma mulher antes? Como se chama? Beatrice Russo. Beatrice Russo. E você? Não consegui dizer nada. Nada mesmo? Não disse a ela nem uma palavra? Não exatamente. Eu disse cinco palavras. Quais? Eu disse, “Como se chama?” E ela? E ela: “Beatrice Russo.” “Como se chama?” são três palavras. E as outras duas? “Beatrice Russo”, eu repeti. Don Pablo, se radio não quero incomodá-lo, mas, poderia me escrever um poema para a Beatrice? Não! Eu nem sequer a conheço! Um poeta precisa conhecer o objeto da sua inspiração! Não posso inventar algo do nada. Tenho esta bolinha, que a Beatrice colocou na boca. Ela a tocou. E daí? Pode ajudá-lo a conhecê-la. Que poeta! Se vê tanta dificuldade em uma poesia, quando vencerá o Prêmio Nobel? Mario, belisque-me e me acorde deste pesadelo! O que vou fazer, Don Pablo? Aqui ninguém poderá me ajudar. Todos são pescadores e não podem dizer nada. Pescadores também se apaixonam, não?
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